POR QUE DEUS PERMITE O SOFRIMENTO?
A questão do sofrimento é muito debatida por religiosos e não religiosos. Pensadores de todos os credos formulam suas próprias teorias, e são muitos os que questionam a existência de Deus (ou Sua soberania) pela existência do sofrimento - especialmente em debates em que o intuito manifesto da parte seja de abalar a fé alheia em um Deus misericordioso e onipotente.
Somos seres inteligentes. E a inteligência é acompanhada de curiosidade e de dúvidas. Não creio que, apesar de sermos cristãos, devamos nos esquivar de nossas dúvidas. O erro é não procurar respostas às dúvidas e permitir que, em algum momento, nossa fé seja abalada.
Portanto, cremos que Deus existe e é bom; mas o sofrimento, que é mau, também existe. Por que?
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O sofrimento é um estado de infelicidade, de padecimento. Sofremos tanto por nossos próprios erros quanto por questões alheias à nossa vontade. O sofrimento sempre tem uma causa, dentre as quais a maldade é, seguramente, a principal.
A história da humanidade é permeada de maldades: guerras, genocídios, criminalidade. Como resultado da maldade de poucos, muitos sofrem. E a Bíblia nunca nos deu esperança de que a maldade humana será extirpada da terra; pelo contrário: E ouvireis de guerras e de rumores de guerras (...). Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores (Mateus 24:6-8).
Dificilmente se questiona a origem do mal, pois a resposta é clara: vem do nosso egoísmo, do nosso desprezo pelo próximo, da nossa falência moral. O problema é quando perguntamos: "por que Deus permite que o mal aconteça?" - como se a maldade humana pudesse, de alguma forma, ser atribuída à Ele.
Deus criou o mundo e tudo o que nele há. E, quando fez surgir o homem, entregou-lhe o domínio das criaturas que existem na terra (Gênesis 1:26-28). Até mesmo o Éden foi dado, imediatamente, ao homem para o lavrar e o guardar (Gênesis 2:15). Portanto, o mundo e a criação pertencem à Deus, mas cabe à nós a gestão de todas essas coisas; a responsabilidade pela flora, pela fauna e, até mesmo, pelo nosso próximo que sofre. Mas somos falhos - extremamente falhos - nesta tarefa! Tomamos posse de mais do que precisamos, destruímos o que achamos que é supérfluo ou abundante, desprezamos os necessitados. Nosso coração é demasiadamente corrupto (Jeremias 7:9).
Não bastasse nossa incapacidade de gerir as coisas que Deus nos entregou, ainda "delegamos" toda a autoridade ao diabo! Na passagem referente à tentação de Jesus, o diabo assim afirmou: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue (Lucas 6:5). Ainda, o mundo jaz no maligno (1 João 5:19). Esta entrega não decorreu somente do pecado original, mas, também, da contínua manifestação do pecado na sociedade - especialmente a busca pelos próprios interesses e prazeres humanos (egocentrismo) e a negação do evangelho de Jesus Cristo.
Em Atos dos Apóstolos, no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre uma comunidade, uma das principais marcas daquele acontecimento foi a comunhão entre irmãos na fé: E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração (Atos 2:44-46). Em uma sociedade submetida à soberania de Deus, qual o lugar do sofrimento? Em um ambiente de fraternidade e temor ao Senhor, onde estariam a guerra, o crime, a fome, a maldade humana?
Mas, do contrário, o que esperar de uma sociedade centrada no egoísmo humano? O que esperar de um mundo que foi entregue, pela própria humanidade, ao diabo e às suas doutrinas? O mundo é mau porque somos maus, e são maus todos os desígnios do nosso coração.
Então, vejamos. As guerras e os crimes decorrem de ações humanas: da corrupção, do egoísmo, do ódio. Também a fome decorre de ação humana, eis que a terra sempre foi suficiente para suprir todas as nossas necessidades, mas o egoísmo fez concentrar muito nas mãos de poucos. O medo e o "vazio existencial" quase sempre resultam de negarmos à Deus e de desobedecermos os Seus mandamentos. E o que dizer dos traumas que nos assolam? E da falta de esperança? Não virão, igualmente, de nossa incapacidade de aceitar a direção e a proteção de Deus? Longes do nosso Criador estamos sozinhos, fracos, desorientados; e, então, cedemos ao pecado, aos vícios, aos pensamentos maus.
Os homens amaram mais às trevas do que à luz (João 3:19). Mesmo quando Deus trouxe juízo aos homens por causa de suas iniquidades (como ocorreu no dilúvio e na destruição de Sodoma e Gomorra) eles não se arrependeram. E está escrito, em Apocalipse 9:20-21, que a humanidade passará por diversas pragas, mas nem assim se arrependerá das obras das suas mãos, nem dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua fornicação, nem dos seus furtos.
Se boa parte do sofrimento que há no mundo decorre, exclusivamente, da maldade humana, qual será a "parcela de culpa" atribuída à Deus? Por que Deus deveria "impedir" o sofrimento que nunca deveria sequer existir, se a humanidade se conscientizasse de suas ações, se arrependesse de suas maldades e se voltasse para o evangelho de Cristo?
E, se Deus deveria impedir o sofrimento no mundo, como o faria? Talvez, "descendo" dos Céus para, pessoalmente, impedir, à força, aquele que pretendesse cometer estupro, roubo ou assassinato? Ora! Deus criou o ser humano com capacidade de tomar decisões, mas nos deixou diversos ensinamentos bíblicos e imprimiu, em nossos corações, conhecimento do que é bom e do que é mau. Além disso, entregou Jesus Cristo para nos libertar de nossos pecados e nos mostrar como viver. Não bastasse, nos alertou de retribuições severas (e eternas) pela prática do mal. Se, mesmo assim, o ser humano permanece, resolutamente, praticando o mal e infligindo sofrimento, nada há de ser feito por Deus, exceto no Dia do Juízo.
Portanto, questionar a existência ou a soberania de Deus por causa do sofrimento que há no mundo não faz sentido algum. Na verdade, o sofrimento apenas nos demonstra o quanto falhamos naquilo que Deus nos orientou a fazer.
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E quanto ao sofrimento por causas sociais, tais como desemprego, privações econômicas, falta de segurança, solidão? E quanto às doenças? E o sofrimento causado por desastres naturais, como furacões e terremotos? E a dor da perda de um ente querido? Se não sou o responsável por estas causas, por que sofro delas?
Havia um entendimento, entre os judeus, de que o sofrimento era resultado de um pecado específico. Em João 9, os discípulos de Jesus questionaram se a cegueira de um homem provia do pecado de seus pais ou dele mesmo. Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus (João 9:3). Em Salmos 32:1-4, porém, dá-se a entender que o pecado não confessado traz consequências físicas, como dor e pranto: envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio.
Podemos concluir, então, que alguns sofrimentos podem, sim, resultar de pecados específicos e não confessados. Por exemplo, muitas doenças resultam de tagagismo, alcoolismo, práticas sexuais, má-alimentação e outras causas que devem ser atribuídas ao nosso estilo de vida, de vícios e de hedonismo. Mas muitas outras causas de sofrimento, de fato, não resultam de culpa alguma de quem sofre. E, ainda, a Bíblia diz que há sofrimento que nos é afligido pelo próprio Deus!
Na passagem citada de João 9:3, Jesus explica que o sofrimento (a cegueira) de um homem aconteceu para que naquele homem se manifestasse as obras de Deus. Em Lamentações 3:28, lemos: Quando Deus nos faz sofrer, devemos ficar sozinhos, pacientes e em silêncio. Em Filipenses 1:29 lemos: Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele.
O sofrimento da parte de Deus sempre tem um propósito. Na vida dos profetas do Antigo Testamento, dos apóstolos e dos gentios convertidos no Novo Testamento, o propósito era fortalecer-lhes a fé e manifestar Seu poder através das fraquezas deles. Em 2 Coríntios 12, o apóstolo Paulo se queixou de um "espinho na carne" (talvez, uma doença, um incômodo persistente - um sofrimento, portanto) e orou, três vezes, ao Senhor para que o retirasse. A resposta de Deus, no versículo 9, foi clara: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na sua fraqueza; quando, então, Paulo declarou: quando estou fraco, então, sou forte. E, em Tiago 1:2-4, lemos: Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem que falte a vocês coisa alguma.
Mesmo que a questão possa nos causar certa perplexidade, é preciso entender que Deus conhece nossos corações mais do que podemos nos conhecer. Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento (Salmos 139:1-2). Por conhecer nosso coração e nossa fé, Deus nos prova e nos confronta, mas Seus propósitos são sublimes e a recompensa que nos é dada é eterna. Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado (1 Pedro 1:6-7). Em Romanos 8:18, lemos: Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.
Quanto ao sofrimento que vem do mundo e da vida em sociedade (mesmo que não provenha diretamente de maldade humana), estaremos todos sujeitos enquanto estivermos vivos. Em João 16:33, Jesus disse aos seus discípulos: Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo. Resta-nos, portanto, perseverar até o fim, tendo como alvo a Salvação em Jesus Cristo e a vida eterna!
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Questione-se, portanto: Será que o sofrimento não seria um chamado de Deus ao arrependimento por minhas próprias ações? Não será, também, um lembrete de como sou fraco e dependente do Senhor? Talvez, uma prova de minha fé para que, em mim, se manifeste o poder e a glória de Deus?
Submeta-se, portanto, à Deus e à Sua soberania. Busque o Seu reino e a Sua Justiça, e entenderá que, mesmo no sofrimento, o Senhor o fortalece.
