POSSO CRER NA BÍBLIA?

A autoridade da Bíblia Sagrada e sua natureza como Palavra de Deus são umas das grandes dúvidas dos que estão se esfriando na fé. Se fossemos todos capazes de ler a Bíblia como um livro pelo qual Deus pode falar aos nossos corações, certamente a leríamos com grande zelo, buscando mais e mais do conhecimento de Deus. Depois, ainda meditaríamos, por longo tempo, sobre o que Deus acabou de nos ensinar na leitura de Sua Palavra.

Não é assim, porém, que muitos têm lido a Bíblia. Por vezes, a leitura não passa de uma prática religiosa cansativa, e o livro é grande demais e com letras muito miúdas. Ou já a lemos muitas vezes ao longo da vida, e as palavras já não falam ao coração. Às vezes, as palavras são difíceis de entender, tornando a leitura incompreensível.


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Mas já se perguntou o que é a Bíblia? Como ela surgiu? Quem são os seus autores e como eles descreveram fatos que sequer presenciaram – como Moisés, ao escrever sobre o Gênesis? Já considerou como podem tantos autores, alguns deles sem qualquer acesso aos manuscritos antigos, escreverem toda a história sem caírem em contradição, ao longo de quase 1.600 anos (que é o período estimado de escrita de todos os seus livros, de Gênesis ao Apocalipse)?

Para nós, a Bíblia é a Palavra que revela a natureza e os planos de Deus para a humanidade. Seus 66 livros, com narrações históricas, poesias, cânticos, provérbios, exortações e profecias, nos revelam, progressivamente, quem é Deus e o que Ele deseja de nós.

A revelação é progressiva, pois, no Antigo Testamento, Jesus Cristo não havia se manifestado em carne, mas sua história é contada desde o princípio. Em Gênesis 3:15, Deus disse: E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. A “semente” era o filho de Deus, nascido de mulher, que seria ferido na cruz, mas pisaria e feriria a cabeça da serpente. Essa “ideia” não nos parece tão abstrata hoje, pois conhecemos Cristo; mas era totalmente incompreensível para os judeus antigos. Mesmo seu possível autor, Moisés, provavelmente não entendeu o significado desta passagem. A revelação, naqueles tempos, estava apenas começando.

Quando Jesus Cristo inicia seu ministério, Ele confirma os mandamentos que foram dados por Deus por intermédio de Moisés. Mas, como a revelação bíblica é progressiva, o mandamento não adulterarás, de Êxodo 20:14, é ensinado por Jesus da seguinte forma: eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela (Mateus 5:28). Vale dizer: no Antigo Testamento, o povo deveria atender ao mandamento “não adulterarás” de forma literal: não se deitar com a mulher do próximo. Para Jesus Cristo, “não adulterarás” implicaria não cobiçar mulher alguma – revelando que é a cobiça que corrompe o coração, enquanto o adultério propriamente dito já seria o resultado desta corrupção.

Em Lucas 24: 26-27, Jesus Cristo surge diante de seus discípulos, após Sua morte, e lhes diz: Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras. Veja como, nesta passagem, Jesus demonstra que, de fato, a Bíblia Sagrada revelou todo o plano divino, de Moisés e todos os profetas do Antigo Testamento, até a morte de Cristo, sua ressurreição e sua entrada na Sua Glória.

E a revelação não termina com a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Deus ainda quis nos mostrar como o evangelho saiu dos limites territoriais de Israel e alcançou outros povos (os chamados “gentios”) e como a igreja se formou mediante os apóstolos. Em Apocalipse, Deus nos revela o que ainda há de vir. Hoje, a revelação divina está completa, de forma que nenhuma palavra, nenhum ensinamento deverá ser acrescentado ao que já está escrito. Paulo enfatiza: Mas ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja Anátema (Gálatas 1:8).

A Bíblia descreve alguns fatos que os pesquisadores descobriram muitos anos depois. A destruição de Sodoma e Gomorra pode ter ocorrido com uma cidade chamada Tel el-Hamman, localizada na atual Jordânia, destruída por volta de 1650 a.C. A teoria, em 2008, seria de que o Mar Morto, em razão de algum terremoto, teria desencadeado chuvas de alcatrão fumegante ou, talvez, que um meteorito teria caído na região, mas tudo se encaixa na descrição de Gênesis 19. A arca de Noé, com a exata descrição de Gênesis 6:15, pode ter sido descoberta na fronteira entre o Irã e a Turquia, quando, em 1948, fazendeiros teriam noticiado uma formação semelhante a um barco naquela região; e as escavações posteriores comprovaram a existência de materiais marinhos e argilosos que estavam presentes na área entre 5.500 e 3.000 anos a.C.

Diversas religiões organizadas e seitas foram criadas por influência das Escrituras, tais como o catolicismo, o espiritismo, o mormonismo, o judaísmo. Trata-se de um aspecto negativo, advindo de interpretações equivocadas de textos bíblicos, mas, ainda assim, comprova o poder e a influência da Palavra de Deus na história da humanidade.

O fato é que quando se lê a Bíblia buscando do conhecimento de Deus e deixando de lado as influências dos líderes religiosos e dos intérpretes que se autoproclamam “estudiosos” e “iluminados”, o Espírito Santo nos convence da verdade e nos ajuda a entender as Escrituras como elas são. A Reforma Protestante, do século XVI, foi uma realidade porque Martinho Lutero, até então um rigoroso monge agostiniano, passou a ler a Bíblia Sagrada por si mesmo (especialmente as cartas de Paulo aos Romanos), quando, então, se deu conta das falsas doutrinas da igreja católica, especialmente as vendas de indulgências e o poder político do papa. Lutero não precisou ler qualquer outro livro para revolucionar o cristianismo.


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Há, na teologia, um conceito chamado inerrância bíblica. Isto é, a Bíblia não erra em seu próprio texto. Podemos interpretá-la erroneamente, mas a inerrância concerne ao texto bíblico. Considerando-se que a Bíblia Sagrada é um trabalho coletivo (com muitos autores) que levou cerca de 1.600 anos para ser concluído, como poderia resultar tão coerente?

Veja: se, hoje, a Bíblia Sagrada está ao alcance de todos nós, antigamente as Escrituras eram copiadas manualmente, em rolos de papiros ou pergaminhos, e passadas de geração a geração. Será crível que cada autor de cada livro da Bíblia tivesse acesso aos raríssimos manuscritos antigos? E, se não tinham as Escrituras em mãos, como conseguiram “continuar a história” a partir do que já foi escrito, sem praticar incoerências e contradições? E como alguns profetas descreveram fatos que não eram de seu tempo, mas concluídos anos depois, no Novo Testamento, com tanta precisão?

O profeta Isaías, por exemplo, predisse detalhes sobre o nascimento de Jesus, o Emanuel (Deus conosco) – só que cerca de 700 anos antes de Cristo! Portanto, o Senhor mesmo lhes dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel (Isaías 7:14). O profeta Zacarias, há mais de 500 anos a.C., narra um fato da vida de Jesus como se o tivesse presenciado: Alegre-se muito, cidade de Sião! Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo e vitorioso, humilde e montado num jumento, um jumentinho, cria de jumenta (Zacarias 9:9).

Ainda que todos os autores bíblicos tivessem acesso aos manuscritos antigos, um trabalho desta magnitude, e com tantos anos de produção, não poderia resultar inerrante! Isto, pela própria falibilidade do homem. Todo trabalho em equipe, especialmente aquele que seria concluído muitos anos depois de começar, acabaria distorcido por interpretações pessoais e incoerências.

Com tudo isto, cremos que “algo”, “alguém”, “alguma coisa” inspirou profetas, reis, juízes, apóstolos e escribas, de diversas gerações, a escreverem a Bíblia tal qual ela foi escrita. Pela fé, o grande autor da Bíblia Sagrada é Deus, que revela sua natureza e seus propósitos através de escritores humanos. Essa mediação se deu por inspiração do Espírito Santo: Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo (2 Pedro 1:20-21). 2 Timóteo 3:16 ensina, ainda, que Toda a Escritura é inspirada por Deus.


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O que é, pois, a Bíblia? Qual é a natureza dela?

Entender a Bíblia como um mero compilado de narrativas históricas estaria em desacordo com as profecias que já se cumpriram e que ainda hão de cumprir. E, se a Bíblia fosse um compilado de fábulas, delírios coletivos e mentiras hebraicas, o cristianismo, hoje, estaria rebaixado a mera mitologia praticada por poucos adeptos (como é o caso de milhares de religiões antigas). Em Atos dos Apóstolos, Capítulo 5, Pedro e outros apóstolos estavam para ser julgados perante o sinédrio, quando um fariseu chamado Gamaliel, mestre da lei, assim orientou os julgadores: 38. Portanto, neste caso eu os aconselho: deixem esses homens em paz e soltem-nos. Se o propósito ou atividade deles for de origem humana, fracassará, 39. se proceder de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los, pois se acharão lutando contra Deus. Os apóstolos, então, foram soltos e não pararam de ensinar e proclamar que Jesus é o Cristo. E, até os dias de hoje, o evangelho é anunciado entre as nações, mostrando que este ensinamento, de fato, não vem de homens.

Ainda, entender a Bíblia como um mero livro religioso contradiz os sermões de Jesus Cristo. Vejamos: um “livro religioso” teria por objetivo sustentar um sistema de dominação das massas baseado no medo, na ignorância humana e na completa submissão de seus adeptos aos líderes religiosos. Logo, este livro teria por característica exaltar o “ministério” dos líderes religiosos, como se fossem autoridades incontestáveis escolhidas pelo próprio deus desta religião. E se este livro desse “voz” aos excluídos da sociedade e “vulnerabilizasse” seus líderes religiosos, a própria religião se enfraqueceria (pois este sistema precisaria de homens influentes para se sustentar). No caso da Bíblia, Jesus Cristo apontava os pecados e a pequenez daqueles que eram, justamente, os líderes religiosos da época: os fariseus, os escribas e os sacerdotes, chamando-os, muitas vezes, de hipócritas, cegos e raça de víboras (Mateus 23). Não bastasse, Jesus se assentava à mesa de pessoas comuns do povo e comia com eles – ato que os fariseus consideravam indignos de um sacerdote. Logo, a Bíblia seria extremamente contraproducente, se vista como um "livro religioso".

A Bíblia é, portanto, um livro de revelações de Deus para os homens. Suas verdades transcendem à história da humanidade e os fatos do passado nela descritos ecoam nos tempos atuais e ecoarão no porvir. Sua Palavra é fonte inesgotável de sabedoria, capaz de renovar a nossa mente e transformar o nosso viver.

Devemos, pois, questionar todas as religiões e seitas religiosas (inclusive as advindas do “cristianismo”) que não estimulam seus adeptos a lerem a Bíblia Sagrada constantemente, bem como rechaçar os sermões de líderes religiosos que se baseiam em interpretações e interesses pessoais. Malditas sejam as igrejas que vendem “bençãos” e “itens ungidos”, que divinizam seus próprios líderes, que valorizam mais os sermões e interpretações de seus líderes do que a própria Bíblia; pois usam de trechos distorcidos das Escrituras para infligir dominação naqueles que estão vulneráveis.

Uma outra questão é a originalidade da Bíblia que temos hoje. Será que as diversas traduções e edições não corromperam a verdade bíblica? Se há uma Bíblia original, onde ela está? E, se a Bíblia está corrompida por ação humana, como posso crer neste exemplar que tenho em minha casa?

Primeiramente, é importante entender que os escribas (aqueles que se dedicavam a copiar as Escrituras manualmente) eram extremamente zelosos em sua tarefa, especialmente em tempos de altíssima reverência à Deus e à Sua Palavra. Em suas cópias, nenhuma palavra poderia ser alterada, nenhuma interpretação pessoal poderia ser acrescentada. Com o tempo, muito deste trabalho foi perdido. Mas, em 1947, quando foram descobertos, nas cavernas de Qumran, no Mar Morto, diversos manuscritos datados do século II, a.C., os estudiosos puderam comprovar que a Bíblia, tal qual está escrita nos dias de hoje, mantém-se fiel aos textos antigos. As diferenças são que a Bíblia “atual” está dividida por livros (Gênesis, Êxodo, Levítico... Mateus, Marcos, Lucas...), não se encontra mais no formato de pergaminhos e rolos de papiros e está traduzida para mais de 700 idiomas, tornando-se acessível a bilhões de pessoas ao redor do mundo. 


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A Bíblia é, pois, um grande compilado de narrações históricas, poesias, cânticos, provérbios, exortações e profecias, que revelam a natureza de Deus e Seus propósitos para conosco. Deus poderia se revelar a nós de outras formas? Sim, se fossemos seres espirituais e santos como Ele o é; mas somos carnes e somos pecadores. Conforme 1 João 4:12, Ninguém jamais viu a Deus, exceto, claro, por meio de Jesus Cristo, enquanto viveu entre nós.

Deus escolheu se revelar a nós através da Bíblia Sagrada. E Sua Palavra jamais passará; é viva e eficaz, capaz de trazer verdades e entendimentos aos nossos corações a cada leitura. E sendo a Bíblia espada do Espírito (Efésios 6:17), é apta para contra-atacar as investidas do inimigo sobre nossas vidas.

Posso, então, crer na Bíblia?

Eu creio! E você?

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